7 de maio de 2022, sábado de madrugada
Gabriel Celestino, meu amigo e um dos meus ídolos de infância, misteriosamente retomou contato comigo após anos afastados. Fato esse que reforçou a minha ideia de que as pessoas, e tudo que elas representam, vem pra minha vida quando serão verdadeiramente necessários para o meu crescimento pessoal. A importância que ele teve na minha infância que atualmente assumiu uma proporção inimaginável não cabe neste espaço e tentar fazer com que encaixe aqui, seria uma blasfêmia. Então vou poupar-lhes... Não escrevo isso aqui para falar dele mas sim da ideia que as criações dele plantaram e adubaram para as minhas próprias invenções.
Hoje eu assisti a um dos vídeos que ele criou. Sim ele é um fazedor de artes, artista nato eu diria, e praticamente tudo que ele faz me traz reflexões, talvez até motivação para expor as minhas próprias criações e inspiração pra tentar algo novo. Coisas que nem sempre vão pro papel ou pra alguma rede, tampouco são mencionadas em qualquer conversa aleatória com pessoas, mas que ecoam incessantemente na minha cabeça.
Acredito que ele se sente compreendido porque alguém se captou o recado que ele tentou passar no filme em seu filme e ainda assim foi além inventando moda na própria cabeça, deve se sentir honrado por ter influenciado uma mera expectadora a tentar ser protagonista da sua própria vida, mas isso não posso afirmar com certeza... Simplesmente me sinto instigada a usar o cérebro para algo útil e fico feliz ao perceber que eu tenho ajuda para uma jornada tão pessoal, apesar de ele não saber qual a importância que agrega na minha caminhada.
Eis que retornou novamente meu pensamento principal ao sair por ai expondo meus textões: minhas frustrações ou comemorações são mesmo tão pessoais a ponto de não serem compartilháveis?
Contido em segredo dentro de mim, há algo na iminência de emergir. A arte do Gabriel me ajuda a dar vida e concretizar algo que era apenas uma ideia na minha mente enevoada. Tal como o Ás e o 2 de paus, tendo em vista que o tarô é muito sobre autoconhecimento antes de ser apenas sobre adivinhações... Eu sinto que o fogo está conversando comigo enquanto destrói as paredes que eu mesma criei e que até hoje aprisionam minha liberdade de expressão e limitam minhas criações. O vento que alimenta tal fogo está me guiando na direção de quem eu realmente sou, alguém que está na iminência de surgir. Talvez a pessoa que eu estou prestes a me tornar não seja exatamente pra mim e por isso é tão difícil de entender a mensagem que os deuses estão me enviando.
Veja, o meu amigo Gabriel deu forma a algo que me fez revirar a ponto de vencer minha preguiça e os meus bloqueios mentais (não é a primeira vez que ele faz isso, não será a ultima) e eu me expressei de uma forma que talvez o tenha feito se sentir especial, como se o trabalho dele tivesse ultrapassado suas expectativas e tocado alguém mais profundamente do que ele mesmo tenha imaginado, animando-o a persistir.
Talvez eu seja um espelho no qual as pessoas enxergam além de suas inseguranças conseguindo ver seus dons que não sabiam ter, empregando melhor seus próprios defeitos e motivando a si mesmas com qualidades nunca antes percebidas.
Então o meu dom não é pra mim e são os alheios a todos os meus questionamentos que esclarecem essa duvida recorrente, eles respondem minhas perguntas sem perceber que estão respondendo e eu duvido que alguém saiba sua real importância na minha vida. Eu duvido que o Gabriel saiba da importância dele pra mim, mas isso muda agora pois as obras dela tem grande participação nas minhas reflexões e não posso deixar isso em segredo por mais tempo.
Levando isso em consideração, surge o pensamento de que os artistas e até mesmo suas invenções mais mirabolantes tenham o poder de empoderar àqueles que estão afundados em seus submundos particulares do vazio existencial. Talvez os artistas consigam mostrar àqueles que estão perdidos em si mesmos a própria capacidades de controlar-se e a sua mente, transformando-os de expectadores a autores e protagonistas de suas próprias historias... Criando caos e harmonia, desilusões e calmaria em si mesmos. Parece uma forma de caridade dos artistas para nós mas ninguém nunca vê assim, tendo em vista que de alguma forma todos pagam para consumir arte e menosprezam a magnitude da mesma.
Eu quero que as pessoas me vejam mas antes disso, anseio desesperadamente que elas saibam como eu as vejo. Elas sempre descobrem, mesmo que eu não precise expressar em palavras ou atitudes. Isso não é necessariamente algo positivo. Com essa informação, você leitor já deve imaginar o teor das minhas obras (sendo escrita ou não) e a acidez que minha personalidade assumiu, estou errada?
As pessoas precisam saber o caos e beleza que elas são e é muito fácil para uma pessoa expressiva repassar isso à elas, e eu sou bastante expressiva. Principalmente quando existe um potencial imenso debaixo de todo lodo trazido pelo marasmo cotidiano ou por trás dos traumas pessoais desenvolvidos ao longo dos anos de vida... Sou uma artista que revela à pessoas que se acham comuns o quão artistas elas são, sou uma criadora que as motiva a ser e fazer o que estão destinadas. Não é uma tarefa fácil e eu não conseguiria tocar a todos mesmo que eu quisesse, e é por isso que eu acho que ninguém nasceu para a solidão, então a arte é nossa companhia... Arte essa que não é tão autossuficiente para se criar sozinha... Você já entendeu que eu estou lhe dizendo que todo artista precisa de outros artistas?
Eu - arteira e filha de arteira, criada em volta de arteiros, convivendo diariamente com todo tipo de arteiros que tu possa imaginar ou não - digo isso com conhecimento de causa. Qualquer ser humano que faça malabarismo entre sua carreira, casa e família, vida afetiva ou pessoal, que consiga manter a sanidade diante dos seus eventuais fracassos, ter o mínimo de decência a ponto de sentir amor próprio mesmo tendo o beneficio do livre arbítrio, qualquer ser humano que passa por tudo isso e ainda consegue manter sua individualidade e opinião própria, pra mim é um artista. Eles fazem tudo isso e não conquistam multidões para aplaudi-los, apenas carrascos observadores da vida alheia. Essas pessoas conseguem ser igualmente inspiradoras quanto qualquer cineasta, musicista, poeta ou escritor, pintores ou dançarinos que eu já vi por ai. E essas pessoas também tem suas inspirações para não se perderem em si mesmas e até mesmo se reinventarem quando necessário.
Existe um pouco de tudo dentro de nós mas nem sempre conseguimos ter conhecimento sobre tudo isso, principalmente se estivermos limitados à uma redoma do que é socialmente aceito, coisas que são bem recebidas mas não tem profundidade, comuns.
Consumir a arte alheia não somente me acalma e instiga a criar mas também me motiva a prosseguir no auto conhecimento para ser alguém melhor e ter algum amor próprio. Eu hoje consigo me ver como uma parte importante em algo grandioso, ainda não revelado. Estou tentada a persistir nessa existência apesar dos meus fracassos.
Pode ser que esse textão seja um amontoado de palavras em uma pagina que nunca será notada, pode ser que eu tenha dito muitas coisas aqui que separadas fazem tanto sentido quanto agrupadas, pode ser que após ler isso você entenda o que o Gabriel representa pra mim e o quanto as obras delas tem poder de me tirar da preguiça. Eu disse que seria blasfêmia tentar explicar e blasfemei sem perceber... Ou pode ser que isso tudo não te traga nada pois eu e tudo que represento é 8 ou 80.
Espero que essa reflexão te eleve à algum lugar dentro de si mesmo e que você consiga se amar apesar de toda rejeição alheia e do seu auto ódio. Você está fazendo arte já pelo simples fato de existir, e talvez não seja tão inútil quanto pensa que é.
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